Análise do personagem Eugênio, da obra O Seminarista, de Bernardo Guimarães
Análise
do personagem Eugênio, da obra O
Seminarista, de Bernardo Guimarães
Emanuelly Massoco
Emanuelly Massoco
Na obra de Bernardo Guimarães
– O Seminarista - o personagem que
será Padre, vive em Minas Gerais com seus pais (Capitão Francisco Antunes e a
Sr. Antunes) e, próximo de sua madrinha (Umbelina) e a filha dela (Margarida).
Em sua
infância, lá pelos seus doze anos, Eugênio tinha “[..] cabelos castanhos, de
olhar meigo e plácido e em sua fisionomia como em todo o seu ser transluziam
indícios de uma índole pacata, doce e branda” (GUIMARÃES, 1991, p. 9). O enredo
apresenta que ele era feliz, divertia-se pelos campos próximos de sua casa,
junto de sua fiel companheira Margarida. Eugênio e ela cresceram juntos, pois,
“[...] Margarida teria pouco mais de um ano, quando sua mãe foi morar na fazenda
do capitão Francisco Antunes” (GUIMARÃES, 1991, p. 13). De acordo com a trama,
a ligação entre os dois era forte e o menino, “[...] não tinha senão um irmão e
uma irmã muito mais velhos que ele’ (GUIMARÃES, 1991, p. 13).
Segundo Bernardo Guimarães
(1991), o jovem já sabia que iria embora das terras de seus pais, chegou a
comentar com sua amiga, que ficou assustada, temendo ficar tão distante de seu
companheiro.
A narrativa relata que mesmo a
ligação deles sendo tão bela, os pais do garoto não gostavam tanto da
aproximação dos dois. Achavam que por eles estarem crescendo, deveriam se
comportar como homem e mulher, além do mais, Eugênio estava destinado a ir para
o seminário, não era bom estar tão ligado a uma moça, seu futuro pecado.
A primeira vez que o menino
foi embora, ele tinha nove anos, foi “[..] morar na Vila em casa de um parente,
a fim de frequentar a escola de primeiras letras’ (GUIMARÃES, 1991, p. 18). Já
é de se imaginar como foi sofrido despedir-se, o narrador da obra de Guimarães
(1991, p. 18), reforça:
Foi um
dia de prantos e desolação naquela pequena família. Parecia que ela havia sido
fulminada por alguma grande desgraça. Umbelina e a dona da casa ralhavam e
afagavam, sorriam e choravam ao mesmo tempo, os meninos resmungavam queixas e
soluçavam pelos cantos da casa. O pai gritava, enternecia-se e exasperava-se
alternativamente á vista de tanta choradeira. E tudo isso por causa de um
menino que ia para a escola dali légua e meia!
O garotinho, ficou dois anos
na escola, e voltava para casa nos domingos.
A segunda vez de sua partida, o
motivo foi mais forte. O rapagote, de acordo com Guimarães (1991, p. 21),
[...] era dotado de
índole calma e pacata, e revelava ainda na infância juízo e sisudez superior à
sua idade: tinha inteligência fácil e boa memória. Além disso mostrava grande pendor para as coisas religiosas. Seu principal entretimento, [...], era um
pequeno oratório, que zelava com extremo cuidado e trazia sempre enfeitado de
flores, pequenas quinquilharias e ouropéis. [...], o menino se extasiava
fazendo o papel de capelão, rezando terços e ladainhas e celebrando novenas com
a regularidade e com uma gravidade verdadeiramente cômica. Seus assistentes
eram os crioulinhos da casa, e ás vezes ele tinha por sacristão a Margarida,
que com isto muito se encantava.
Em vista de tudo isto os pais entenderam que o
menino tinha nascido para padre, e que não deviam desprezar tão bela vocação.
Assentaram, pois, de mandá-lo estudar e destiná-lo ao estado clerical.
Entretanto, para o narrador da
obra de Bernardo Guimarães (1991), o rapaz não tinha total certeza do que
queria. Ele se dividiu entre a religião – que também era a vontade dos pais e,
sua Margarida – a amizade de infância, que com o passar do tempo se tornou sua
paixão.
Chega o momento de partir, ele
vai para Congonhas no seminário, a terra dos padres. Deixa para trás a alegria
e a doçura infantil, e passa a ser um rapaz totalmente diferente. Durante os
anos que passa no seminário, Eugênio descobre que seus sentimentos por
Margarida eram mais fortes do que ele pensava, mas ele sabia também, que sua
profissão de servo do senhor, não permitiam uma mulher em sua vida. Ele não
entendia o porquê não poder seguir o desejo dos pais e admirar sua amada. Foram
muitos dias e noites pensando sobre a escolha feita, questionamentos sobre
estar pecando ao lembrar de Margarida e desejá-la.
O mancebo se condenava e sofria
tanto, que eram notáveis as mudanças no seu físico e caráter. Depois de um
tempo, “Eugênio estava magro, pálido, alquebrado, que mais parecia uma múmia
ambulante. Tinha-se de todo amortecido o brilho de seus olhos azuis, e profunda
palidez cobria-lhe o rosto magro” (GUIMARÃES, 1991, p.40).
Se por fora ele estava desta maneira,
por dentro era ainda pior, o texto de Guimarães (1991, p. 41), cita:
Seu
caráter mesmo modificou-se profundamente, esse menino outrora tão benigno, tão
complacente e comunicativo, posto que algum tanto retraído e melancólico,
foi-se tornando de mais seco e frio, desconfiado e sorumbático.
Durante a estadia do rapaz, no
seminário, ele voltou para casa poucas vezes, e então passados sete anos, ele
volta ordenado padre, para encher seus pais de orgulho.
As coisas na fazenda também
tinham mudado, Umbelina e a filha não moravam mais lá, e mais, a madrinha do
sacerdote havia falecido a algum tempo já. O que foi novidade para Eugênio, era
Margarida estar casada, isso corroía sua alma e o deixava profundamente
enraivado. Logo, ele colocou em sua mente que, “ Margarida é casada... está
morta para mim, e não pode senão recordar-me um passado, que foi de paixão e
fogo na verdade, mas que há muito se acha sepultado debaixo de uma lápide de
gelo” (GUIMARÃES, 1991, p. 110). Posto isso no pensamento, acompanhado de seus
pais, foi para a vila onde passou o dia cumprimentando o povo que vinha
parabeniza-lo pela ordenação.
Conforme está no romance, o
padre foi procurado para ir visitar uma enferma que estava próxima dali e precisava se confessar. A grande surpresa acontece
quando ele se depara com ela, Margarida. Os sentimentos ressurgem e dúvidas
também, ele descobre que ela nunca foi casada e, que isso só foi uma mentira
dos seus pais junto com o diretor do seminário, para tirá-la de seus
pensamentos e não o distrair dos estudos sacerdotais. Nesses encontros com ela,
o mancebo se questiona se está agindo certo, pois não é mais uma criança
ingênua, mas sim, um homem e ordenado padre. Questiona Margarida sobre sua
doença, que não tem efeito nenhum em sua bela aparência, chega a duvidar dela.
Eugênio segue na igreja sem
que seus pais saibam que ele encontrou a moça, e, no dia de rezar sua primeira
missa, na vila, horas antes, recebe a missão de fazer a encomendação de uma
pobre mulher que havia falecido. A natureza já estava lhe preparando para tal
acontecimento, mas quando ele percebe que era Margarida, ele perde a razão. E
quando volta para a igreja, faz o que sempre teve vontade, deixa os convidados
boquiabertos vendo ele,
[...] arrancar do corpo
um por um todos os paramentos sacerdotais, arrojá-los com fúria aos pés do
altar, e com os olhos desvairados, os cabelos hirtos, os passos cambaleantes,
atravessar a multidão pasmada, e sair correndo pela porta principal! (GUIMARÃES, 1991, p.
126).
Portanto,
é perceptível que Eugênio, mesmo na infância tendo uma grande adoração pela
religião e as práticas religiosas, não seguiu a carreira por sua vontade, ele
era religioso, mas não tinha o dom que os pais acreditavam. Passou anos de sua
vida tentando aceitar algo que não cabia a ele, e só se deu conta no momento em
que perdeu a pessoa que deseja estar junto.
Referência:
GUIMARÃES, Bernardo. O Seminarista. 18.ed. São
Paulo: Editora Ática, 1991.
Olá Lilian, gostei muito do teu blog! Trabalhar literatura na escola com certeza é um grande desafio! Mas os frutos são ótimos!
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