O CICLO DO MORRO
O CICLO DO MORRO
Vinicius Rodriguez
Vinicius Rodriguez
Eu tava
subindo a ladeira, quando escutei, vindo do meu barraco.
-Os dois com a mão na cabeça!
- Bora pra viatura, bando de assaltante filho da p...!
Depois disso,
cheguei lá, e, não vi nem a minha mãe, nem o meu padrasto; e o meu pai, fazia
um tempo que não tinha notícia dele.
Eu me
amarrava em ver umas revista que tinha no meu colégio, que só mostrava lugar
massa, e tinha aqueles maluco médico, juiz, advogado. Assim até me vinha na
cabeça que a minha vida poderia ser fora daquela praga de morro, aquele morro
que os muleque dizia, que se lá tu nasce, lá tu vive, e lá tu morre.
Naquela
noite era eu e o cristo, tentando dormir com frio, fome, e sem trapo pra usa no
próximo dia. Ele ainda conseguia fica em cima do morro de braços abertos; mas
eu, não sei se durava mais um dia, sem nem lugar pra í, ou alguém pra pedi
socorro, pra me tira daquela linda Copacabana, aquele paraíso de bacana de
televisão correndo no calçadão; mal sabem eles que alguém como eu, só sabe
corre é de tiro.
Amanheceu o
dia no glorioso Rio. E o formigueiro também tinha acordado, era, desde cedo,
uma cambada de pontinho preto subindo e descendo a ladeira da Rocinha. Eu só
sabia de uma coisa, precisava come.
Decidi desce
no asfalto, quem sabe lá eu ainda tinha alguma chance. Uns muleque do Alemão
também tavam lá por baixo, e, na verdade, eles chegaram na minha, e um deles me
perguntou:
-O neguinho, ta com fome?
-Ta a fim de uma grana?
Não pensei
duas vezes, minhas lombriga falaram mais alto, e disse que sim.
-Faz assim teu, pega essa pistola, chega naquele mercadinho
falando “é um assalto, passa a grana do caixa” e, ponto final, ta feito o
serviço.
Na verdade,
se for pensar bem, “chegar e pegar a grana”, muito mais fácil! Pra que fica na
esperança de virar bacana, essas merda não existe, não é pra mim.
Eu fui...
Mas só
escutei um:
-Mão na
cabeça!
-Bora pra viatura,
bandidinho filho da p...
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